Cynthia 14

  

                                

Pela primeira vez em toda a sua vida aquele estava sendo um Aniversário comemorado. Sentia-se viva, feliz e alegre com sua vida e consigo mesma. As coisas fluíam em harmonia e decidiu que faria uma reunião para alguns amigos. Preparou tudo para o Sábado combinado. Comprou as carnes e todas as bebidas, providenciou a sobremesa e arrumou a casa para receber as pessoas. Marcelinho já estava com ela desde a sexta, quando o buscou na escola e foram direto para sua casa. Seria um fim de semana de farra, alegria e comemoração!

Foi então que Cynthia se deparou com cenas e momentos de puro desencanto, que a deixaram mais surpresa do que triste ou magoada. Suas amigas estavam absortas em conversas tolas e em momento algum se dirigiram a ela oferecendo ajuda com a louça e demais afazeres depois do almoço. Ficaram todos na varanda, sentados em volta da mesa conversando, enquanto ela lavava pias e pias de louça, copos e taças de sorvete. Quando finalmente conseguiu sentar-se à mesa, cansada e desanimada, percebeu que nem o “parabéns” havia sido cantado para ela. Aquilo sim, a magôo. Numa reação de defesa e puro instinto de preservação, puxou ela mesma a música clássica em qualquer festa de aniversário. Depois daquilo, passou o resto da tarde sentada, esperando que seus “amigos” decidissem ir embora e deixá-la a sós com Marcelinho. Um banho e sua cama quentinha, era tudo o que ela almejava. Mas ao invés disso, apenas tarde da noite as pessoas se foram. Parecia que fizeram questão de estender infinitamente aqueles momentos chatos, pesados e sem graça, totalmente o inverso do que ela pretendia que tivesse sido.

Apesar de estar chateada com as amigas, nada comentou durante os dias seguintes, até porque, nenhuma delas ligou. Decidiu que não valia a pena tocar no assunto, que dizia respeito somente a ela. Se as amigas foram capazes de cometer esse tipo de falta de gentileza e falta de carinho, para que reclamar com elas? De qualquer forma, já não era a primeira vez que se decepcionava com essas amigas e resolveu ficar atenta para não se magoar novamente. Talvez a divisão de amizade e apreço não estivesse equilibrada. Mas também não podia obrigar ninguém a amá-la e respeitá-la; só não desejava mais esse tipo de amigos em sua vida.

Cynthia estava num processo de amor próprio tão intenso, que não queria parar para dar atenção a coisas tolas e que eram fruto da imaturidade de cada uma delas, apesar de amá-las, tinha de dar o direito a elas de serem como eram. Apenas isso. Uma questão de aceitar as coisas como elas são. Sentia que estava num momento único e muito especial. Jamais em toda sua vida havia se sentido tão bem, tão em paz. Não iria deixar que a imaturidade a impedisse de aceitar as agruras da vida; logo ela, que já estava acostumada aos tropeços da vida. Ao invés disso, estava aproveitando o momento rico e os acontecimentos 

emocionais para escrever muito e ser feliz!