segunda-feira, 17 de maio de 2010
Cynthia 6
17 de Mao de 2010.
O Mês de Abril chegou, trazendo consigo o frescor das tardes de Outono. A cada dia que passava, Cynthia sentia-se melhor, mais inteira. Mas ainda não estava como deveria ser. Continuava tentando achar o tom...
A tristeza e o desânimo já haviam diminuído, mas a vontade de viver insistia em não dar o ar da graça. Passou tres semanas sem ir a terapia, engasgada, entalada com sua terapeuta. Quando voltou, foi para anunciar que não continuaria indo às sessões. Naquela mesma tarde, ligou para Walkiria, sua antiga terapeuta.
Como sempre, Walkiria prontamente marcou um dia para receber Cynthia. A sessão durou mais de duas horas. Cynthia falou como se tivesse ficado impossibilitada de falar até então. Nem acreditava; como era bom ser ouvida por alguém que compreendesse o que ela dizia, pensava e sentia. Um alívio. Sentiu-se em casa, acolhida. Isso foi logo depois da Páscoa.
Vieram os feriados de Tiradentes e São Jorge.Sentia que sua Alma estava despertando. Finalmente, começava a ver uma luz no fim daquele túnel que parecia infinito. Mas ainda faltava. Faltava ser novamente aquela mulher satisfeita, cheia de vida, como uma menina que se arruma saltitante para ir a uma festa.Era esse estado de espírito que ela almejava!
E de repente, não mais que de repente, eis que surge Mariazinha da praia, sua criança espiritual, trazendo consigo toda a alegria e vontade de viver que Cynthia tanto buscava e necessitava. E Cynthia renasce das cinzas! Revigorada, alegre, com vontade de abrir as janelas pela manhã, respirar fundo a brisa fresca e viver!!!A vida parecia outra, como que num passe de mágica! Saltitava de alegria ao ver de volta a leveza de tempos atrás.
Só então pode se dar conta de quão pesada esteve sua vida, sem cor, sem brilho. Mas agora conseguia lançar um olhar diferente sobre tudo o que vivera. Olhava com o devido distanciamento de quem observa uma cena a qual não pertence mais, não mais. Agora estava finalmente livre! Agora sentia-se realmente ela mesma, reconhecia-se e amava a mulher que era. Não era mais uma estranha para ela mesma. Até sua casa estava diferente. O túnel havia terminado, enfim.
Alguns dias depois de seu renascimento, que foi exatamente no fim de semana 23 e 24 de Abril, Cynthia voltou a ter com Walkiria. Entusiasmada, relatou como estava feliz, sentindo-se renascida e muito orgulhosa de si mesma por ter se parido. Amando-se e lambendo-se, como quem lambe a própria cria. Era isso. Ela era seu maior projeto agora! Sua missão seria, simplesmente, se cuidar, como quem cuida da criança amada. Ela era agora, a sua criança. Essa nova Cynthia merecia muitos cuidados e zelo.
Para sua sua surpresa, ouviu de Walkiria que ela não via necessidade de Cynthia estar em terapia nesse momento, que tudo estava bem agora e que ela poderia caminhar em paz, com as próprias pernas e que, se por acaso, quisesse uma sessão extra, era só ligar e elas conversariam.
Cynthia deixou o consultório ainda mais radiante do que tinha entrado. Pisava nas nuvens,feliz e satisfeita por estar plena, senhora de si, como há muitos anos não se sentia. Prestou bastante atenção àquela sensação de plenitude, a fim de nunca mais esquece-la.
Toda a mágoa, todas as feridas de tantos anos sendo maltratada, agora cediam lugar a uma alegria e felicidade que ela até então não havia experimentado. Sabia que agora teria paz e tranquilidade para começar uma nova vida, botando em prática tudo aquilo que havia ficado paralisado enquanto esteve tragada por uma realidade que não era a sua, vivendo uma vida que não lhe pertencia.
Sentia-se pronta para viver a vida que construiria para si, dia a dia, cuidadosamente, buscando decorá-la com cores suaves e alegres, proporcionando um ambiente aconchegante. Estava feliz com ela mesma, pela primeira vez em muitos anos.
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