sábado, 15 de maio de 2010

Cynthia 4

  



   Durante esse processo na busca de si mesma, tentando reencontrar uma Cynthia que ela mesma havia deixado tão longe, num tempo passado para onde não poderia voltar, compreendeu que teria de se reconstruir!
    Mas como seria essa nova mulher? Como ela queria que a nova Cynthia fosse? Foi com esse questionamento que ela viveu e conviveu depois do fatídico Natal.
   Passou o Reveillon em casa, solitária, mas satisfeita. "Antes só do que mal acompanhada" era seu lema naquele momento da sua vida. Seus até então amigos haviam todos se afastado, sem um motivo aparente. Apenas se afastaram, se esfumaçaram, como uma imagem que vai saindo de foco, perdendo a nitidez até desaparecer de vez.
   O Verão foi quente e repleto de dias radiantes e de um azul capaz de revigorar qualquer Alma aflita. Aproveitou as férias que ela mesma se concedeu, sob as orientações de seu Mestre, sempre, e passou muitos dias ao sol. Muitos desses dias prazerozos foram passados em companhia de sua grande e querida amiga, Karenina. Essa convivência mais próxima foi muito importante para ambas, que sempre se amaram como irmãs, conscientes da graça que é poder reencontrar uma parte de si mesma nesse Planeta de expurgo. As duas falavam sobre tudo, desde cinema até futilidades, o que fazia com que o dia passasse sem que elas se descem conta.
   Essa energia de Sol e água foram terapêuticas para Cynthia. Ela já havia se convencido de que teria de passar longo período se cuidando, aprendendo a se amar. Dessa vez, não adiantaria uma ida ao salão para mudar o cabelo ou coisa parecida. Teria de ser uma transformação de dentro para fora. Nada mais de elementos externos como facilitadores, pois estes ela sabia habilmente manipular,  sabotando-se inconscientemente para ficar simplesmente no mesmo lugar, apenas com a sensação de que estava diferente.
   Nas suas horas na Internet, acabou fazendo amizade com um vizinho de um de seus joguinhos, Felipe. Os dois logo se afinizaram e uma forte amizade começou. Falavam sobre tudo e muito sobre si mesmos. Cada dia mais se davam conta de como estavam em momentos idênticos. Ambos estavam em fase de rever valores. Essa amizade foi e continua sendo muito querida e importante para Cynthia.
   E foi assim, dia após dia, que Cynthia começou a voltar a si. Matriculou-se na Yoga, mas raramente ia. Começou a ficar insatisfeita e incomodada com sua atual terapeuta, que parecia cada dia mais não conseguir dar conta da complexidade do momento por ela vivido.
    Questionava tudo em sua vida, cada relação, cada detalhe, na intenção de identificar tudo aquilo que já não queria mais que fizesse parte da sua vida.
   Já sentia-se muito menos morta, mas ainda faltava muita coisa, mas ela continuava sem saber o que era exatamente.
   Um belo dia, no MSN, começou a falar com uma conhecida que não falava há tempos. Era Isadora, esposa de Eduardo, seu grande amigo. Isadora estava falando sobre algumas questões profissionais e Cynthia a convidou para ir ao Terreiro. Pronto. Mais uma bela amizade nascia.
   Saber-se e sentir-se cercada por verdadeiros amigos fazia com que o coração de Cynthia começasse a doer menos. Sabia que estava no caminho certo. O Túnel estava chegando ao fim. Seria uma questão de tempo. Enquanto isso, ela precisava continuar procurando preencher sua vida de pessoas queridas e amizades verdadeiras,além de atividades que lhe dessem prazer. As pessoas já começavam a aparecer, mas ainda estava sem direção, sem saber o que fazer que trouxesse satisfação e prazer à sua vida.
   Começou a frequentar a Yoga com assiduidade e logo pode perceber os benefícios que esta prática promoviam, trazendo um bem estar que há muito ela não sentia.
   Estava quase se sentindo em casa, porém ainda restava o incômodo em relação à sua terapeuta. Decidiu que iria parar com as sessões. Queria sua antiga terapeuta, Walkiria. Precisava de uma pessoa amiga, que conhecesse sua alma e fosse capaz de compreende-la e ajuda-la nesse momento. Não queria mais relações nas quais tivesse de se conformar com a qualidade da troca. Queria relações nas quais ela recebesse tanto quanto estava dando, e sabia que tinha muito para dar e com qualidade. Começava a se valorizar.
   Seu aniversário de quarenta e quatro anos foi o menos incômodo de toda a sua vida. "Bonita idade, minha filha", teria dito seu pai. Ele dizia isso desde que ela fizera dezoito anos, sempre com os olhos transbordantes de amor e orgulho da filha amada.
    Almoçou com Karenina e brindaram à Vida!  Como estudiosa de astrologia, Cynthia acreditava que seu ano começava naquele momento e tinha a certeza de que tudo de bom a aguardava. O momento limbo estava chegando ao fim, graças a Deus.


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