Depois de quase seis meses solteira, Cynthia certificava-se a cada dia de que o melhor lugar do mundo para se estar é, sem dúvida, longe do gosmento!Por mais que sua amiga Karenina falasse para não pensar mais em Limali, Cynthia sabia que somente curaria esse trauma destrinchando-o, esmiuçando cada ponto, cada lembrança, cada lágrima derramada.
Inevitavelmente, entrou num estado de desânimo tal que quase poderia ser chamado de torpor. Um estado até então desconhecido. Não era só tristeza, nem apenas falta de vontade e nem somente falta de alegria. Era um luto por si mesma. A única coisa da qual tinha consciencia é que não poderia mais refugar o que vinha pela frente, fosse lá o que fosse. Seu Mestre há muito havia revelado que esse momento chegaria; o momento de mergulhar fundo e entrar nesse “túnel” que Cynthia sabia ser inevitável, mesmo sabendo-o longo, frio, escuro. Ela sabia no mais profundo do seu ser que apenas entrando nesse túnel e atravessando-o, dessa vez sim, até o final, conseguiria chegar ao destino tão sonhado, esperado e buscado desde os últimos meses, ela mesma!
E foi assim que, sempre sob as orientações de seu Mestre, Cynthia caiu num profundo estado de vivência interna,ficando quase que paralisada em relação ao mundo externo. Do lado de fora nada acontecia, paradoxalmente ao turbilhão de emoções e sentimentos com os quais tinha de lidar internamente, que iam e vinham com a violência de verdadeiras vagas em mar tempestuoso, arremessando-a de encontro aos seus medos mais profundos, suas tristeza mais escondidas, à mercê, à deriva, qual barco náufrago que vira brinquedo nas mãos furiosas do grande Netuno.
E assim, tragada pelo turbilhão de suas próprias emoções, foi obrigada a se render à supremacia dos fantasmas que insistiam em reviver de tempos em tempos, com suas correntes barulhentas a lhe tirar o pouco de sossego que restava. Já não adiantava mais lutar ou tentar resistir. A incursão já não tinha mais retorno. Durante esse mergulho, Cynthia foi se deparando com toda sorte de criaturas abissais, fazendo lembrar as descidas às zonas abissais. Agora possuía seu inferno particular. Não haveria outra alternativa a não ser enfrentar cada monstro, cada medo, cada trauma, uma a um. Só assim conseguiria se livrar de todo o peso que a atormentava há tantos anos e, finalmente, emergir.
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