Sentada à beira da lareira, tomando a segunda taça de seu vinho tinto chileno preferido, Cynthia pensava na vida...e em tudo que passara nos últimos anos; no seu "momento gosma", como gostava de se referir à sua última relação, se é que aquilo algum dia foi uma relação, diga-se de passagem.
Quase um ano após ter se separado, pesava a vida antes e depois da sua alforria (não por acaso era noite de 13 de Maio). Pensava em como estava feliz e satisfeita, realizando os projetos que propôs a si mesma e que estavam ajudando-a a recobrar a memória de si mesma dia a dia. Sua Yoga, as pinturas, seus escritos...
Escrever. Sim... Talvez fosse o que resumisse melhor sua essência pisciana e tresloucadamente emotiva e sedenta de transcrever esses sentimentos, sempre na eterna esperança de um dia chegar a se compreender por completo. Acreditava com todas as forças da sua alma que o caminho para essa compreensão não poderia ser outro senão o do autoconhecimento.
Por isso tudo, quando se viu novamente escrevendo, botando seus sentimentos no papel e tentando dar nome aos bois e a seus demônios internos, Cynthia soube que estava curada! Curada da era obscura, tenebrosa e sorumbática que passara ou a que se submetera, sabe lá Deus o porque. Aqui entre nós, sou capaz de desconfiar, mas sem jamais confessar a ela, que todos esses anos sob a Era das Trevas pode ter sido um subterfúgio subconsciente dela mesma, apenas para ter dramáticas experiências vividas para nos contar em seus escritos. Nunca duvidem da capacidade insana de uma pisciana! Nunca!
O importante é que agora ela estava livre e conseguindo voar com as asas das suas emoções, percorrendo cada canto e recanto de si mesma e tendo o prazer de descobrir tantos ainda ignorados; matando as saudades de seus lugares internos prediletos e com o indescritível prazer de escrever e descrever sobre cada novo dia, cada novo pensamento, cada nova alegria, plena, segura e senhora de si!
Celebrava a nova vida como se realmente tivesse acabado de ali chegar, cheia de animação e curiosidades pelo que está por vir durante a estada nesse lugar novo e ao mesmo tempo tão familiar que era ela mesma.
Fumou mais um cigarro, aproveitando o restante de lenha que ainda queimava na lareira e foi se deitar. Amanhã seria um novo dia dessa viagem que acabava de re começar.

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