sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cynthia 16



Sua alma sempre soube que a separação seria inevitável e que estava próxima, ela só não imaginara o quanto. Não sabia se o fato de ter sido avisada por seu Mestre era bom ou ruim. Estava confusa e sem saber como agir. Sentou-se na varanda para apreciar a chuva refrescante de final de tarde. Algumas lágrimas rolaram de seus olhos. Pensou em Marcelinho e em tudo o que poderia estar por vir. Ligou para sua amiga e irmã Walkiria e decidiram iniciar um Reiki à distância.


Na manhã seguinte Cynthia acordou cedo, mas não havia dormido bem. Ficou até tarde da noite pensando na vida e escrevendo sobre seus devaneios. Tomou um bom banho enquanto o café ficava pronto; sentou-se na varanda e decidiu que não iria trabalhar. Havia algumas coisas que queria arrumar em casa, faria isso enquanto aproveitava pra deixar a mente desocupada para os pensamentos e intuições conseguirem fluir sem dificuldade. E assim o fez. Quando se deu conta, já estava na hora do almoço e seu estômago concordava com uma pausa.

Depois do almoço Cynthia aproveitou o dia livre e escreveu pelo resto da tarde. Sua mente fervilhava de idéias, sentimentos e sensações a serem registradas, transformadas enquanto eram digitadas uma a uma. Escrever a deixava mais consciente. Aproveitava as emoções pessoais e dava impulso às histórias de suas personagens. Cynthia não queria parar, apesar do dia de folga que havia se concedido, não queria ficar sem fazer nada, estava com medo do que começava a sentir.

Naquela noite, ao invés de ficar na sala, tomou seu banho e foi direto para o quarto. Jantou alguma coisa leve e viu um pouco de TV. Seus pensamentos divagaram em frente à tela e quando se deu conta, estava chorando. Achou que havia sido por causa da cena emocionante que acabava de assistir, mas não era; no fundo ela sabia que aquelas lágrimas lhe pertenciam.

Acuada por si mesma e por seus sentimentos, Cynthia finalmente se entregou e chorou; chorou até não haver mais o que ser chorado. Chorou não pelo passado, mas por tudo o que poderia ter sido. Quase sentiu pena de si mesma por tantos sonhos não vividos, por tantos planos roubados. Enquanto ia chorando pelas cenas vividas e pelas não vividas, Cynthia foi percebendo que chorava também por uma parte sua que havia morrido, ficado no passado, sem ter sido realizada. Conhecia-se o suficiente para saber que apenas se entregando à dor conseguiria a cura de tudo o que estava sendo trazido à tona naquele momento, não adiantava fugir, não queria mais fugir. Aos poucos foi se acalmando, a intensidade das cenas foi diminuindo e ela já podia enxergar sem que as lágrimas turvassem sua visão. Lavou o rosto e tomou um copo d’água para se recompor. Sentia como se estivesse saindo de um transe, uma longa viagem.

Cynthia abriu as janelas e deixou o ar fresco entrar, já era madrugada. Respirou fundo e olhou para o céu, cravejado de estrelas, agradecendo pela magia do que havia acontecido naquela noite. Não sabia ao certo o que, mas sabia que algo estava diferente nela. Na verdade, suas lágrimas haviam cauterizado antigas feridas, mas ela ainda não tinha consciência disso. A tristeza que sentiu foi justificada pelo fato da internação de Limali e seu Mestre deixaria que assim ela pensasse, por ora. K conhecia sua pupila e sabia como deveria conduzir todo o processo a fim de que Cynthia finalmente compreendesse aquela história e pudesse seguir em frente, sem mágoas ou cicatrizes. Ele a amava e sabia melhor do que ninguém como lidar com ela.

Como numa gangorra, Limali ia saindo de sua vida na medida em que Marcelinho voltava. O fato da internação do rapaz fez com que Cynthia sentisse que esse luto era real, material e por isso pensou que ele fosse desencarnar. A associação de morte nas duas situações foi necessária. Cynthia precisava compreender que o havia vivido com Limali jamais seria apagado, mas que havia ficado no passado, como nas cenas das encarnações passadas que ela visualizou no transe. O amor morreu, e nasceu o bem querer em seu lugar.  Em breve Cynthia se daria conta dessa transformação.






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